Nos antigos rincões da mata virgem

Foi um sêmen plantado com meu nome


A raiz de tão dura ninguém come

Porque nela plantei a minha origem

Quem tentar chegar perto tem vertigem

Ensinar o caminho, eu não sei

Das mil vezes que por lá eu passei

Nunca pude guardar o seu desenho

Como posso saber de onde venho

Se a semente profunda eu não toquei?



Esse longo caminho que eu traço

Muda contantemente de feição

E eu não posso saber que direção

Tem o rumo que firmo no espaço

Tem momentos que sinto que desfaço

O castelo que eu mesmo levantei

O importante é que nunca esquecerei

Que encontrar o caminho é meu empenho

Como posso saber de onde venho

Se a semente profunda eu não toquei?



Como posso saber a minha idade

Se meu tempo passado eu não conheço

Como posso me ver desde o começo

Se a lembrança não tem capacidade

Se não olho pra trás com claridade

Um futuro obscuro aguardarei

Mas aquela semente que sonhei

É a chave do tesouro que eu tenho

Como posso saber de onde venho

Se a semente profunda eu não toquei?



Tantos povos se cruzam nessa terra

Que o mais puro padrão é o mestiço

Deixe o mundo rodar que dá é nisso

A roleta dos genes nunca erra

Nasce tanto galego em pé-de-serra

E por isso eu jamais estranharei

Sertanejo com olhos de nissei

Cantador com suingue caribenho

Como posso saber de onde venho

Se a semente profunda eu não toquei?



Como posso pensar ser brasileiro

Enxergar minha própria diferença

Se olhando ao redor vejo a imensa

Semelhança ligando o mundo inteiro

Como posso saber quem vem primeiro

Se o começo eu jamais alcançarei

Tantos povos no mundo e eu não sei

Qual a força que move o meu engenho

Como posso saber de onde venho

Se a semente profunda eu não toquei?



E eu

Não sei o que fazer

Nesta situação

Meu pé...

Meu pé não pisa o chão

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