Carlos Tê
Penélope costura junto ao molhe / Pergunta por Ulisses aos marujos / Nenhum ouviu falar / Ninguém o viu no mar /
Dentro da sua cesta há um novelo / De lã e de madeixas de cabelo / Do qual tece um lençol / Que desfaz ao deitar /
Prometeu acabá-lo / Quando Ulisses voltar / Ulisses está perdido entre as ilhas / Prisioneiro do canto das sereias / Não
encontra o caminho / Entre águas e areias / Na treva do mar / Não se acendem candeias / Penélope é mãe irmã e
noiva / Senhora do engenho da costela / De Adão até Ulisses / Nada mudou para ela / Penélope pede contas aos astros
/ Manda recados cifrados nos mastros / E acende luzernas do mais puro azeite / E veste-se de branco casto / Sem
nenhum enfeite / Ulisses está perdido entre as ilhas / Prisioneiro do canto das sereias / Não encontra o caminho /
Entre águas e areias / Na treva do mar / Não se acendem candeias / Penélope cansada do lençol / Já feito e desfeito
até cansar / Decidiu partir / E conhecer o mar / Penélope quebrou a tradição / Da mulher que não parte e não viaja / A
Grécia já lá vai / Roma também já foi / E agora ela navega / Sozinha e sem herói / Ulisses chegou cansado e velho /
Penélope não estava à sua espera / Tornou-se uma esquecida / Em busca de Odisseias / Ulisses está perdido / Não
tem quem lhe coza as meias.