Carlos tê
"Sôbolos rios que vão de Sião a Babilónia" / Escrevi esta canção durante as noites de insónia / Mãos geladas nos
relentos, ourado pela calentura / Se dobrasse os meus tormentos, jurei cantar a aventura / Estou de volta a este cais

que me viu ir e voltar / Daqui já não parto mais, só cá venho recordar / Está-me ne melancolia que meu coração
invade / Está na dobra da melodia por onde pinga a saudade / Está nas trovas do Bandarra está nos trinos da guitarra
/ Pode alguém conter em si tanto menos tanto mais / Só um fado é que podia falar por mim neste cais / Sou um
castrenho do Norte, sou moçárabe e judeu / Porque trina é a fonte onde meu coração bebeu / Sonhei que Deus me
sorriu e de mim fez seu eleito / Esse ouro me seduziu e eu parti de cruz ao peito / E assim verti meus sais, pela Ásia
das monções / Perdi-me nos temporais, fiquei louco nos sertões / Imprimi a minha marca nos quatro cantos do Mundo
/ Pena foi que a minha barca tivesse que ir ao fundo / Está nas trovas do Bandarra, está nos trinos da guitarra /
Ninguém foge ao seu destino, quando o fadinho nos chama / Só um fado é que podia ilustrar bem o meu drama / Nas
tabernas da ribeira, cantei a minha canção / E achei-a na fogueira da sagrada inquisição / Por denúncia ou por
desgraça, meu coração se perdeu / Fugiu, ardeu pela praça, e triste se envileceu /

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