Eu tava encostada alí minha guitarra
num quadrado branco vide um papelão
eu era um enigma uma interrogação
olha que coisa mas que coisa a toa, boa, boa, boa,
boa, boa
eu tava com graça, tava por acaso alí não era nada
bunda de mulata, muque de peão
tava em Madureira, tava na Bahia, no Beaubourg, no
bronx, no brás
e eu,e eu, e eu, e eu, e eu

a me perguntar: eu sou neguinha?

era uma mensagem, lia uma mensagem, parece bobagem,
mas não era não
eu não decifrava, eu não conseguia
mas, aquilo ia, e eu ia, e eu ia, e eu ia, e eu ia...
eu me perguntava, era um gesto hipie, um desenho
estranho
homens trabalhando, pare e contra-mão,
e era uma alegria, era uma esperança
e era dança e dança, ou não, ou não, ou não, ou não,
ou não

tava perguntado: eu sou neguinha? eu sou neguinha!
eu sou neguinha? eu sou
neguinha!
eu sou neguinha? eu sou
neguinha! eu sou neguinha!
eu sou neguinha?

eu tava rezando alí completamente, um crente uma
lente, era uma visão
totalmente terceiro sexo, totalmente terceiro mundo
terceiro milênio carne nua, nua, nua, nua, nua
era tão gozado
era um trio elétrico, era fantasia, escola de samba na
televisão
luz no fim do túnel, beco sem saída
e eu era a saída melodia
meio-dia, dia, dia, dia

era o que eu dizia: eu sou neguinha!

mas, via outras coisas, via o moço forte
e a mulher macia dentro da escuridão
via o que é visível, via o que não via
e o que a poesia e a profecia não vêem mais nem, vêem,
vêem, vêem, vêem
é o que parecia
que as coisas conversam, coisas supreendentes
fatalmente erram, acham solução
e que o mesmo signo que eu tento ler e ser
é apenas um possível ou impossível
em mim, em mil, em mil, em mil

e a pergunta vinha: eu sou neguinha? eu sou neguinha!
eu sou neguinha? eu sou
neguinha!
eu sou neguinha? eu sou
neguinha!
eu sou neguinha? .....

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